Professora Clecy Ribeiro
(Exclusivo para o blog do Jornal Laboratório)
Anos 60, de ambiente febricitante nas redações dos jornais. Desenganada, então, a pretendida neutralidade da imprensa, sequer sobravam resquícios. Os acontecimentos impõem postura diferente. 68, o símbolo, com seus antecedentes e conseqüentes, deixa de ser julgado impensável. No eco da revolta, resiste ao tempo, inventaria erros, considera lições, reafirma contexto na política européia (volta ao conservadorismo) e latino-americana (em busca de outros caminhos).
À época redatora da Editoria Internacional do JB, vi correrem – ipsis litteris – esses anos de idealismo, contestação, ira. Dos filósofos, a leitura mais que a inspiração. Marcuse serve a Berkeley, Althusser e Sartre a Nanterre e Sorbonne. Dos revolucionários, a visão onírica de um mundo solidário, igualitário. Idéias que se irradiavam por dois continentes, o americano e o europeu, suscetíveis de refletir o expansionismo das fronteiras universitárias para a sociedade, procurando politizar a massa, no contágio.
Anônima, eu os remetia, fatos e personagens, às páginas internacionais internas e, com freqüência, à primeira página. 1967 já vinha em turbilhão. Morre Guevara na Bolívia e, com ele, o pensamento de exportar a revolução cubana. A ofensiva do Tet, início do fim da guerra do Vietnã, acabaria por fortalecer o novo foco revolucionário que se abria: “criar muitos Vietnãs”.
Mas a guerra escancarou aos Estados Unidos a questão do poder revolucionário e seu papel na estrutura internacional. Fracasso ali, presságio de outras perdas. Europa inclusive. Assim, o final dos anos 60 foi pródigo para a CIA, Usaid e o militarismo. Com loas especiais a Henry Kissinger, eminência parda do governo Nixon. Ecoam no “quintal” os protestos pacifistas nunca vistos dantes nos Estados Unidos, bem como o assassínio de Luther King. Oportunamente, o Chile prefere a via das urnas. Mas a engrenagem repressora acoplada frustraria as esperanças.
Perdemos o Vietnã; não vamos nos perder na América Latina. Não por coincidência, o fim da guerra coincide com a queda de Allende, em 1973, já em marcha a Operação Condor. Bem, cada geração parece ter um horizonte histórico, embora 68 envolva mais que uma geração. Mas a cada qual, indivíduo ou classe, cabe a opção de ir além do ser social e tornar-se ator do processo. Pela revolução ou o que quer que se apresente.
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