Blog do Jornal Laboratório FACHA

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Breve em novo endereço e novo visual

Uma publicação dos alunos do Curso de Comunicação Social da
Facha - Faculdades Integradas Hélio Alonso
Unidade Botafogo.

jornallaboratoriofacha@gmail.com


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04/05/2008

1968: "Em 68, era editor do principal jornal político", Pery Cotta



Nas reproduções acima (fotografadas pelo professor Márcio Riscado) a capa histórica do "Correio da Manhã" sobre a "Passeata dos 100 mil" e o artigo assinado pelo jornalista Pery Cotta, "A operação mata-estudante", que provocou a primeira das suas prisões por combater a Ditadura Militar.

“Em 68, era editor do principal jornal político”
Pery Cotta*
(Exclusivo para o blog do Jornal Laboratório)

Naquele ano de 1968, que alguns chamam de Era Romântica da Imprensa, a Veja estava começando a circular e a então pequenina TV-Globo tinha apenas três anos. Hoje são líderes em seus segmentos, principalmente pelo milionário faturamento, mas naquela época estavam e ficariam com as contas no vermelho por muito tempo.

A grande mídia daquele momento bravo e histórico brasileiro eram os jornais.

E o principal jornal político era o Correio da Manhã, com incontestável liderança conquistada pela bravura em enfrentar a ditadura militar. Regime que, como os demais veículos de comunicação, o velho CM havia ajudado no início e que passou a combater logo em seguida, a partir do instante em que os militares tomaram gosto pelo poder e esqueceram a promessa de realizar eleições livres e diretas. A História registra que isto somente veio a acontecer quase duas décadas depois, em 1986, assim mesmo com presidente da República escolhido por via indireta e pelos votos de deputados somados aos dos senadores biônicos (indicados pelo regime autoritário).

De 1965 a 1968, trabalhei no Correio da Manhã em diversos cargos de chefia. Editei e dei nome à Passeata dos Cem Mil. E passei a ter direito a uma longa ficha nos órgãos de segurança, engordada bastante durante o emblemático ano de 68 no qual se tornou insuportável para a ditadura o posicionamento do jornal. Tanto que, com a edição do Ato Institucional número cinco (AI-5), o Correio da Manhã foi invadido pelos golpistas e no dia seguinte ocupado por oito fardados coronéis do Exército, os quais como traças passaram a fazer a censura em todas as matérias do jornal.

Cinco dias depois, fui demitido: como Editor de Política me negava a escrever sobre política (além da censura à imprensa, o Congresso estava fechado e colocaram um general da reserva para presidir o partido de oposição, aliás formado por deputados e senadores que restaram). Pior do que isto, fiquei mais visado e perseguido pelo regime e seis meses depois preso dentro da Redação do jornal em que, afinal, havia conseguido novo emprego. De Editor de Política passei a redator do noticiário policial.

Qual o meu crime, além de ser da tal “geração romântica” dos jornalistas?

Artigo assinado no Correio da Manhã, em que denuncei que, desde abril de 1968, logo após o assassinato do estudante Edson Luís, certo brigadeiro da Aeronáutica estava tentando obrigar que a elite da tropa dos pára-quedistas, o Para-Sar famoso pelas ações de salvamento em desastres aéreos, passasse a “tropa de elite” e jogasse no mar, de helicóptero, lideranças estudantis, políticos opositores e até ex-presidentes ou candidatos à Presidente da República, além de explodir o gasômetro da Av. Brasil etc como depois as ditaduras militares fizeram em países vizinhos, na Operação Condor. Como se vê, jornalista era personagem de romance, certamente romance de terror.

* Professor de Jornalismo da FACHA.

Um comentário:

Flor Baez disse...

Pois é... não sei mais qual poesia restou de 68.