Ombudsman
O desafio de escapar das armadilhas
por Ricardo Benevides
Mais uma bela edição do Jornal Laboratório e me vejo na tarefa de ler seus textos como o ombudsman da vez. Prazer reduzido – ou vocês pensam que é agradável criticar o ofício alheio? –, a princípio este número me pareceu dos mais equilibrados, com boas matérias, principalmente a que recupera a vida e a obra do jornalista Luís Carlos Sarmento.
Mais uma bela edição do Jornal Laboratório e me vejo na tarefa de ler seus textos como o ombudsman da vez. Prazer reduzido – ou vocês pensam que é agradável criticar o ofício alheio? –, a princípio este número me pareceu dos mais equilibrados, com boas matérias, principalmente a que recupera a vida e a obra do jornalista Luís Carlos Sarmento.
Há pouco tempo, dei depoimento ao blog do JL, afirmando minha vontade de ver em suas páginas mais conteúdos que recuperassem a História (com H maiúsculo) da Comunicação, em suas habilitações profissionais. Casos como o do jornalista que inventou o “drama do gavião” precisam se manter vivos.
Também destaco positivamente as matérias sobre Philip Bennett e Daniele Garcia. O texto sobre o aluno de Jornalismo que virou juiz de futebol tem boas sacadas, como o fato de profissionais dessa área terem duas mães, a que fica em casa e a que aparece nos estádios. Bom humor precisa ser presença freqüente no jornalismo universitário, e ele também está na fala da aluna-escritora, vencedora do concurso literário do Caderno Prosa & Verso. Ainda assim, talvez o espaço dedicado ao depoimento tenha sido grande demais. Senti falta de certas informações na matéria sobre a aluna, seus projetos futuros, a habilitação que cursa, entre outras.
A seção “Em todo lugar tem alguém da FACHA” podia explorar melhor o conteúdo das outras habilitações, para não ficar restrita aos temas do Jornalismo – a imensa maioria de logomarcas de empresas jornalísticas, no topo da página, denota o desequilíbrio. Neste número, por exemplo, a pauta dava margem a uma discussão sobre o espaço de trabalho das Assessorias de Comunicação como sendo também mercado para os publicitários e para os relações públicas – pesquisa da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) dá conta de que 22% dos responsáveis pela Comunicação Interna nas organizações brasileiras são formados em RP. E muitos são terceirizados, trabalhando em agências como a de Carolina Wayland, personagem da matéria. Desse jeito, o texto poderia falar mais alto aos anseios profissionais de mais alunos, elucidando suas questões essenciais.
A reportagem sobre a Veja é um desafio. Não propriamente porque seja difícil tratar do tema, opinar sobre a publicação da editora Abril ou revelar seus equívocos, mas sim por entender que a melhor posição para um jornal laboratório seria analisar as escolhas da revista sem incorrer no uso do próprio “método Veja”, sugerido pela matéria de Daniela Lima. À maneira maniqueísta, e recuperando o conceito do “Terceiro Excluído” citado no texto, poderíamos ver qualquer esforço para abordar os pontos de vista da publicação na perspectiva do “certo ou errado”, do “ético ou anti-ético”, levando o leitor a julgar a Veja como boa ou ruim. Escapar desta armadilha: eis o tamanho do desafio.
Num certo sentido, o JL escorrega. A própria pauta da reportagem posiciona o Jornal Laboratório, partindo das críticas de leitores, professores e jornalistas à revista para evidenciar os abusos, os excessos e o despropósito de suas posições. Devolvendo a voz à Veja, a última página do jornal traz a entrevista com Eurípedes Alcântara, diretor de redação, permitindo que ele se defenda. Então temos o jogo “ataque-defesa” que remete à bipolaridade “revista-boa versus revista má”... É claro, isto não compromete o trabalho dos alunos, muito bem feito e contextualizado na proposta. Mas o comentário deste ombudsman serve de alerta para os futuros jornalistas! O senhor Eurípedes diz que “não existe jornalismo a favor” e, com isto, quer eximir sua revista da responsabilidade ao atacar pessoas e instituições (governos inclusive) de maneira vil. Pois, digo eu, de cá: “também não existe jornalismo contra”. Se a Veja pratica, fiquemos espertos para não incorrer no mesmo erro de maneira desapercebida.
Proposital ou não, a escolha da segunda cor desta edição ocasionou algo interessante: ter um membro da Veja como entrevistado em uma página amarela. O resultado é muito proveitoso. Aliás, no jornal como um todo.
2) A resenha dos livros sobre 68, publicada na página 11, saiu sem o crédito do autor do texto. Rodrigo Gratacós Brum é o seu autor.
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